terça-feira, 13 de maio de 2008

Descobertas

-Serio! Não entendo!

-Pois então não entenda! Apenas fique quieto. Veja...Olhe para baixo.

-Ahm. Lindo. Agora podemos ir embora?

-Nossa, mas quem tem medo de altura sou eu, e é você que está todo apavorado!

-Se você tem medo de altura, o que nós estamos fazendo aqui em cima? E como foi que você conseguiu a maldita chave do terraço?

-Você não vai ficar quieto mesmo? Eu não devia ter te contado que era aqui que eu vinha. Devia ter continuado em segredo, ai, você não ia ficar me enchendo para vir junto... E nem ficaria matracando!

-Chata! Eu fico quieto, mas depois a senhora vai ter que me dar umas explicaçõezinhas. E só para constar, NÃO ESTOU APAVORADO!

Ele encarou o sorriso largo dela e não conseguiu segurar o riso.

Trocaram olhares e revezaram o sorrir.

Ficaram mais uns quarenta minutos no terraço. Em silencio. Em absoluta contemplação. Só foram embora quando a lua já tinha tomado o lugar do sol.

Desceram os treze andares. Conversando. Ele inquirindo ela. E ela apenas respondendo.

Sempre faziam isso. Ele sempre perguntando e ela sempre respondendo.

Era essa a dinâmica. Ele o jornalista, e ela a entrevistada. Às vezes respostas sinceras. Às vezes perguntas ardilosas.

-Mas se você tem medo de altura, que porcaria que você vai fazer lá em cima?

-Tenho medo de altura sim, mas isso perde a importância quando eu passo a ver com mais clareza...

-Que coisa ridícula! Nunca ouvi nada mais besta! Serio, o que você vai fazer lá em cima, mulher?

-Menino chato! Eu vou pra conseguir um pouco de silencio, mas agora que você foi atrás de mim, foram-se meus momentos de calma!

-Hum, até parece que você aprecia o silencio. Nem vem! Nem tenta dá uma de pensadora pra cima de mim!

-Nem sei porque eu ainda converso com você!

-Eu sei. Alem de eu ser incrivelmente lindo, sou extremamente encantador e eloqüente.

-Francamente, Alê! Humildade às vezes é bom.

-Mas agora fala, como conseguiu a chave?

-Eu roubei do sindico.

-Ah!

-Roubei mesmo!

Ele se perdeu na afirmativa dela. Acreditou realmente que ela havia roubado a chave, mas não conseguia deixar de pensar o que fez cometer tal ação.

Ficou intrigado. Pensativo. Apreensivo.

Não conseguia entender as mudanças que vinham ocorrendo nas atitudes dela. Mais confiante. Mais independente. Menos tacanha.

Ele estava completamente extasiado com os modos dela.

Queria perguntar o que ocasionou as mudanças, mas tinha medo da resposta. Ficava com medo que de repente ela se transformasse radicalmente e não o procurasse mais, que seguisse outros caminhos que o afastariam.

Tinha medo das mudanças. Tinha medo das novas descobertas daquela personalidade, e o seu real significado.

Naquele fim de tarde ele percebeu que ela não desempenharia por muito mais tempo o papel de fiel escudeira. Naquelas palavras ele descobriu que a perderia se continuasse mantendo o silencio.



Um comentário:

  1. Engraçado...sempre tive medo de alturas tb. mas descobri há pouco tempo q elas podem ser mto interessantes tb...tenho contemplado bastante do alto, com certo medo, claro, mas ja com mais segurança de que não vou me espatifar...metafórico? tb!
    Talvez nunca nos conheçamos mas sinto q parecemos!

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