sexta-feira, 1 de maio de 2020

Maios

Foi em um Maio de anos atrás que, pela primeira vez, me senti um nada, um ser insignificante. E é evidente que a sensação nasceu com as palavras vomitadas pela boca de terceiro. Lembro que naquele Maio as lágrimas se misturavam a água do chuveiro enquanto eu tentava esconder meu choro. Lembro da sensação do nariz entupido e da face fervendo enquanto eu molhava o travesseiro toda madrugada. Mas também lembro que foi naquele Maio que jurei que nunca mais alguém me atingiria daquela forma, que nunca mais me fariam chorar daquela forma. E foi a partir daquele Maio que ergui a maior barreira emocional da minha vida, uma barreira que se colocada em exame trará a toma que a única prejudicada foi eu. Falhei em não chorar, deveria ter deixado as lagrimas terem limpado o peito, e não represar todo o sentimento. Talvez as consequências tenham sido danosas demais. Talvez...E no Maio presente, no Maio de quarentena, tenho pensado por demais, tenho sentido demais, mas a represa tem se deixado gotejar nas madrugadas. É uma quase aceitação de que é preciso deixar limpar o peito.