Aquele olhar tão distante apenas provocava minha curiosidade. Fiquei o assistindo por alguns minutos e após a curiosidade me vencer, cheguei perto e disparei:
- Tá onde, posso saber?
- No Rio. Sentado num desses botecos que de tão democráticos podem ser por demais perigosos.
Esperava uma resposta, mas não a que ganhei. Ele nunca é como os outros, e mesmo que eu previsse algumas diferenças jamais consideraria que perguntas e respostas poderiam ser um convite.
- E você está sozinho?
- Eu e meu chopp. Penso em muitas coisas, mas estou só. Você sabe que a solidão é meu gatilho pra imaginação.
- Mas pensa o que? Imagina o que?
- Que toda essa gente e toda essa movimentação da vida sempre nos leva pro mesmo lugar... que chega a ser tão obvio e tão assustador também.
- Desenvolva melhor.
Ele sorriu, um sorriso largo e silencioso. Ele sempre sorria quando eu lançava o meu "desenvolva melhor". Dizia que eu enrugava a testa e invertia o que não deveria: racional no lugar do emocional. Dizia que eu perdia o colorido da vida quando trocava o sentir pela razão, que algumas emoções devem primeiro serem sentidas e só depois interpretadas. E que agindo assim eu atropelava o sentido da vida.
Pude encontrar, nos seus olhos a mesma lembrança, quando terminei minha frase. Sorrimos ao mesmo tempo. Esperei que ele verbalizasse a sua "dura", mas essa não veio. O que veio foi a surpresa.
- Sabe aquele momento dos filmes quando de repente no meio de qualquer conversa alguém para e diz: eu senti tanto a sua falta?
- Sei. E sei que a única resposta é eu também.
- Você sabe o que acontece depois?
- Sei... mas nós queremos o que vem depois?
- Eu sempre quis, você é quem racionalizava demais nesses momentos.
E mais uma vez ele me conduzia com as palavras certas. E mais uma vez eu aceitava seu convite.
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