terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Tudo começou com um olhar

Você estava sentado junto à porta. Esperava que alguém o convidasse para entrar.
Era só uma festinha de crianças... E por fim te chamaram.

Jamais imaginaria que esse dia me marcaria tanto.

Lembro-me daquele seu sorriso de quem acabara de fazer uma grande molecagem...
Não me lembro de quem era o aniversario, apenas me lembro dos nossos olhares se cruzando.

Lembro que alguém nos apresentou, e, isso foi o suficiente.

Bastou apenas um olhar!

Nossas personalidades casaram-se de imediato. Tornamo-nos inseparáveis.
Éramos novos vizinhos, mas mesmo assim parecia que nos conhecíamos há séculos.

Nossa amizade foi evoluindo. Fomos crescendo e aprendendo juntos. Grandes amigos.
Fizemos novas amizades, mas sempre juntos. Nossa turma crescia e nossa amizade crescia junto. Criamos uma turma fantástica.
Naquele prédio parecia que todos tinham mais ou menos a mesma idade, e, assim fomos nos unindo. De apenas vizinhos passamos a amigos. De amigos nos fizemos almas inseparáveis.

Freqüentávamos inclusive os mesmo cursos e colégios. Duas pessoas e apenas uma vida- imaginava isso como verdade.
Fazíamos verdadeiras batalhas. Muitas travessuras e confidencias.
Foram anos de grande experiência e ternura. De grande amizade! Anos de uma verdadeira amizade.

Mas como tudo na vida, as mudanças começaram a surgir. E aquela amizade pura foi se transformando.

Tudo começou a mudar quando chegamos aos doze anos. Dessa idade em diante vivemos uma reviravolta de emoções!

Chegávamos à adolescência, e chegávamos todos juntos. Meninos e meninas com interesses diferentes. Eu pensando em você, e você pensando sempre nelas...

Eu era só mais uma amiga com jeito de melhor amigo. E eu odiava isso. Odiava ser apenas vista como a fiel escudeira, pronta para qualquer confidencia. Odiava saber que você me olhava, mas não me enxergava!
O que eu sentia era incompatível com tudo o que você via em mim: apenas uma grande amizade.

Doía-me ouvir seus desabafos sobre seus amores, suas conquistas, seus desejos, seus dissabores. E eu sempre esperando que um dia você me notasse como mulher.

Esse seu descaso inicial para com meus hormônios me doía no coração.

Parecia que o mundo acabava quando você ficava com outra. O tratamento que você dava para suas novas amigas colegiais me magoou, mas mesmo assim persisti ao seu lado.

Fiquei firme, sempre presente. Sempre fiel.

Eu e aquela frase que imaginei infinitas e tantas vezes: "Quem sabe um dia?"
Meu tormento começou quando a Regina veio morar com os primos. E você se encantou com ela. Só falava nela... E eu lá, sempre ouvindo.
Quando se tem doze anos parece que dói mais ser rejeitada. Mas na verdade me lembro de sentir esse mesmo desespero, aquela falta de ar, por diversas vezes e por muitos anos. Naquela época meu primeiro amor me trouxe minha grande experiência em dor.
Quando soube que ela passou a te olhar comecei a perder o chão dos meus pés. Quando via vocês dois juntos meus estomago virava e revirava. Mas o que era isso!
Depois de uns meses ela foi embora. Partiu seu coraçãozinho... Mas me trouxe muita alegria. Enfim, você poderia novamente ser só meu.
Voltei a ser sua companheira.

E esperei, e esperei, até que quase foi: quase foi o primeiro beijo. Por infelicidade minha tive que adiar o primeiro sabor de sua boca. Fomos interrompidos!
Logo após a partida da Regina, durante a noite de um verão muito quente, estávamos na beira da piscina sentados, apenas conversando. E eu sem querer quebrei uma pulseira minha. Muito gentilmente você se prontificou em arrumar... Mas demorou e meu pai mandou que eu fosse pra casa.
Você não permitia que eu fosse embora sem ter a pulseira arrumada. Era questão de honra!

Mas eu sabendo que meu pai ficaria bravo com a demora, roubei de sua mão a pulseira e sai correndo... Foi em vão porque você veio atrás, me alcançou... Eu naquela respiração ofegante... Você bem próximo... Não sei como, mas estávamos muito próximos, nossas bocas a milímetros, sentia sua respiração... Fiquei esperando, foram segundos... E quem sabe o beijo!

Nesse instante em que meu coração pulsava descompassado ouvi meu pai.

E assim, acabava se minha primeira emoção alegre.

Tive que esperar mais um pouco por seu beijo.

Mas mantive minha fidelidade e meu segredo guardados a sete chaves.

Até o dia que você me beijou.

Do nosso primeiro beijo surgiu o começo do meu maior amor.

Do ano de 1993 em diante não tive mais sossego.

Foi em outubro que pela primeira fez pude sentir seus lábios. E desde então você ronda meus sonhos.

De uma dança de rosto coladinho nasceu o primeiro toque, o primeiro beijo!

Nossa caminhada estava se iniciando... Onde iríamos chegar não sabia.

Para mim bastava aquele momento, bastava um pouquinho do seu amor! Bastava que a musica continuasse tocando e eu nos seus braços.

A culpa desse meu amor gigante nasceu quando trocamos pela primeira vez nosso olhar.

Eu mal sabia que conheceria meu verdadeiro amor aos nove anos. Eu mal podia imaginar a confusão que nasceria com o encontro do nosso olhar.



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