sexta-feira, 11 de abril de 2008

Maldito moço

De passos duros e apressados ela se dirigiu até o guichê da companhia Viagem Bem.

O olhar assustado do funcionário de cara boba aumentava na medida da aproximação. Bem no meio daquela fisionomia nasceu o terror.

Espanto. Medo. Brotavam naqueles olhos.

Um pânico justificado. Afinal faziam apenas duas semanas que recuperou-se de uma surra de guarda-chuva que ganhou ao informar o atraso do ônibus a um casal de aposentados.

Após essa terça feira na qual apanhou dos dois velhinhos, qualquer pessoa que se aproximava do guichê, lhe fazia as pernas bambearem. O suar escorrer pelo rosto.

- Moço, a que horas sai o ônibus para Pralá?

Ele todo nervoso, olhou para uma pasta preta que estava bem a sua frente e procurou a informação. E conforme leu, ficou com mais medo.

Ele tímido. Dotado das maiores esquezitizes e profundamente incompreendido pela humanidade. Detestava aquele empreguinho. Detestava as pessoas. Detestava quando o inquiriam. Detestava que as pessoas descontassem nele a incompetência da empresa. Detestava saber que poderia apanhar de novo. Detestava ter olho roxo. Pernas e braços escoriados.

- O próximo ônibus para Pralá sai às nove horas.

- E o da sete e meia? To esperando ele e nada? Tá atrasado? Não tem mais?

- O da sete e meia já saiu, senhora.

- Mas como? Estou aqui desde a sete dessa maldita manhã e nada desse ônibus!

- Senhora, posso garantir que o ônibus desse horário já partiu.

- Mas como, moço? Eu to lá e não vi ônibus nenhum! Será que agora o ônibus ficou INVISÍVEL? Por que só pode ser isso! Eu já disse que lá não passou o ônibus.

- Senhora, como disse, o ônibus já saiu. O próximo só às nove horas.

- Mas moço... Não sou cega! Lá não passou e nem saiu!

-Senhora...

-Mas moço...

-Senhora...

Provavelmente continuariam no debate infinitamente.

Ela na teimosia convicta da impossibilidade do ônibus ter partido sem ela o ver. E ele, na repetição medrosa daquela afirmativa.

Sabendo que o ônibus já havia partido pontualmente as sete e trinta e que o próximo demoraria muito a chegar, ele não teve coragem de explicar o porquê dela nem te-lo visto.

Coube a um rapaz que esperava o termino daquele imbróglio esclarecer que o ônibus não era invisível...

- Moça, o ônibus realmente partiu pontualmente as sete e trinta, porem, houve uma mudança no local de embarque. A plataforma antes era a numero 4. E agora, 1! Por isso, minha senhora, você perdeu o transporte!

Ela com uma incredulidade infantil, olhou para o paspalho do funcionário, encheu a boca e declamou a mais bela palavra ao momento:

- IMBECIL.

Saiu batendo o calcanhar e foi sentar-se perto da plataforma 1 desejando que as horas passassem rápido. Desejando que o despertador do chefe tivesse quebrado. Desejando que o maldito moço morresse engasgado com a própria saliva!

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