- Alê?
-É você, Paty?
-Oi. To ligando só pra desejar um feliz aniversario...
Era a primeira conversa entre eles. Desde Fevereiro que não se falavam. E mesmo sendo um inicio esse primeiro dialogo estava longe de representar o retorno da amizade.
Causava uma certa estranheza naqueles dois essa falta de intimidade.
A ausência da cumplicidade abria um protocolo totalmente novo entre eles, e tanto ele como ela não sabiam ao certo como agir. Apenas sabiam que aquele silencio instalado era desagradável.
Era aniversario dele, e ela, diferente dos anos anteriores, não sabia ao certo o que fazer, e se fazer!
No maio passado sabia. Sabia que teria festa, o que falar, o que comprar de presente. Sabia como agir. Sabia que fazia parte!
Mas esse ano, nesse maio, não tinha certeza.
Ligar? Ir a casa dele? Comprar presente? Fazer de conta que esqueceu?
Será que fica chato...?
Ela passou a tarde toda pensando nele. Pensando se era certo, se era errado, se deveria... Até que se decidiu.
Ligaria. Desejaria o melhor para ele. Compraria presente. E se fosse convidada para festa, também iria.
Ora, ele desde de sempre foi meu amigo. Não é porque agora somos ex-namorados que vou fingir que esqueci que dia é hoje!
E se eu não ligar o que ele pensará de mim? Essa barreira entre nós tem que sumir!
Naquela noite, naquele telefonema, a ordem tentava ser restabelecida. Ela tinha dado o primeiro passo para a reconstrução da afinidade.
-Obrigada Paty. Você tá na sua casa?
-Estou sim, por quê?
-Posso passar daí?
-Pode sim. Você vem agora?
-Daqui a pouquinho chego ai então. To saindo do clube e chego já.
A sensação de frio na barriga incomodava aos dois. E quando se olharam...a estranheza os fez tremer.
O que falar?
O que fazer?
Ele, desceu do carro. Foi ate ela e a abraçou.Ficaram assim por apenas cinco segundos.
Conversaram. Falaram sobre o nada. Deixaram o tempo passar. Tentaram se atualizar da vida um do outro. Tentaram disfarçar o incomodo.
E a vontade de perguntar está ficando com alguém, ficava martelando na cabeça deles. As respostas, porem, os impediam de perguntar. Melhor a ignorância. Melhor fingir tranqüilidade.
De todas as formas, com tantas palavras, lutaram para transformar aquela noite em velhos momentos... Mas fracassaram.
Não eram mais os mesmo. Estavam magoados. E o coração não era capaz de vencer o orgulho.
Assim, foram obrigados a criar um alivio passageiro, uma mentira confortável.
Passaram um verniz naquela antiga historia tentando proteger a amizade que juraram manter.
No aniversario dele descobriram que contornar o desconforto era muito mais difícil que vencer o orgulho ferido. Naquela noite perceberam que nunca mais dividiriam suas historias.
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