Escolheu o vestido mais bonito. Embora o mais sério. Cinza.
Maquiagem muito pouca, apenas um batom, uma base, e apenas isso. Imaginava que com seus 65 anos não havia mais maquiagem que pudesse esconder a ação do seu passado.
O cabelo preso, em um coque no alto da nuca.
Sapatilha preta.
As vestes sóbria e a sisudez apenas refletiam a personalidade solida daquela senhora apática.
Venceu os 33 degraus que a separavam de seu vizinho.
Sem cansaço. Sem ofegar.
Contente. Serena.
Tocou a companhia e esperou que o jovem fotografo a recebesse.
-Boa tarde, dona Rosa. Em que posso ajudá-la?
-Boa tarde meu filho. Lembra que você ficou de tirar meu retrato? Pois então, meu jovem, estou eu aqui, pronta para o retrato.
-Claro, dona Rosa. Vamos entrando. Me de cinco minutinhos para preparar tudo...
Rápido.
Sem dialogo.
Em apenas 10 minutos a pose escolhida ficou gravada.
Não foi preciso segundo disparo.
As características daquela face não foram atenuadas, ao contrario, explodiam com a mesma fidelidade bruta daquela personalidade.
Todo o talento do fotografo foi vencido pela estática daquele olhar inexpressivo. E mesmo querendo continuar com a sessão de foto, mesmo querendo que ela relaxasse, deixou de lado a vontade de vencer aquela barreira de infelicidade . Sem conseguir expor um sorriso em dona Rosa, o rapaz foi obrigado a deixar que ela partisse carregando aquela imagem depressiva.
-Obrigada meu filho. Ficou ótimo. O retrato ficou do jeitinho que tinha imaginado.
-Fico contente em saber. Mas da próxima vez, vai ter que sorrir! Saiu tão seria! Tão triste, dona Rosa.
-Meu filho, seria de mau gosto, eu, toda alegre e sorridente, no retrato para a lapide. Meu falecido marido não iria aprovar.
E foi-se.
Deixou o jovem mergulhado em pensamentos e melancolia.
-Retrato para lapide?!
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