sábado, 5 de julho de 2008

Despedida

-De quando nos beijamos debaixo de chuva.

-Sério? Pensei que você falaria que foi no aniversário.

-Ah. Mas no aniversário foi nosso primeiro beijo. Eu estava confusa, ansiosa. Descobri mesmo que te amava foi debaixo de chuva, naquele 28 de março. E você? Quando descobriu que me amava?

-Deixa pra lá. Deixa de conversa. Vem mais pertinho, vamos continuar abraçadinhos. Tentando recuperar o tempo perdido.

-Não Alê, responde!

-No dia que te vi na garupa da moto do seu primo. Fiquei mordido de ciúmes. Eu nem sabia que ele era seu primo.

Ela riu da confissão que só surgiu agora, depois de cinco anos de muitos vais e vens.

Ele todo envergonhado a puxou mais perto de seu corpo e a beijou.

-Senti tanta falta do seu cheiro. Eu queria continuar com você nos meus braços, bem debaixo dos meus olhos. Não iria te soltar nem por um minuto. Você é tão bonita, não consigo parar de olhar pra você.

-Pará, Alê! Eu também senti a sua falta. Queria ficar aqui mais e mais, para sempre. Sem telefone, sem relógio, sem trabalho, sem compromisso, só nós! Mas eu tenho que ir!

-Não. Fica!

-Não posso.

-Volta mais tarde?

-Não posso.

-Ah. Volta sim!

-Não posso. Tenho compromisso.

-Eu te espero, mesmo que demore, mas volta mais tarde. Passa a noite ou a madrugada ou cinco minutos, mas volta!

Ela olhou para ele enquanto se vestia. Pensou no quanto ficaram separados e no quanto se sentia bem naquele corpo, mas nem se deu ao trabalho de responder. Aproximou-se da boca dele e encostou os lábios. Foi embora deixando uma grande lacuna e o corpo dele largado na cama esperando por ela.

Ela sabia que não voltaria pela noite, nem pela madrugada, nem por mais alguns minutos. No entanto, não encontrou coragem para dizer a ele o porquê. Apenas partiu. Levando embora as antigas lembranças, o gosto e o cheiro dele. Àquelas horas eram suas ultimas. Sua despedida de solteira.

No final do mês ela se casaria com um colega de trabalho que a amava muito. E era disso que ela precisava. Alguem que lhe desse amor. Sem exigências.

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