Enfim o silencio nasceu na cozinha. Depois de muitos gritos e xingamentos tudo se calou. Era a paz que se casava com a liberdade da solidão.
O braço, ainda dolorido, descansava após toda a força empregada. Marretar a cabeça de uma pessoa até ouvir o osso rachar exigiu mais esforço físico do que presumia aquela menina. E aquele exercício a cansou muito. Ofegante e ainda com o quentume daquele viscoso vermelho esparramado pelo corpo e rosto, ela olhou para o corpo no chão da cozinha e o riso crescendo naquele peito rompeu o silencio. Sensação de alivio que permitiu-a abandonar qualquer arrependimento.
Risadas. Lembranças. Palavras antigas. Alivio. O fim da tortura mental.
Arrastou a mão magra do começo do peito ao fim do ombro, deixando um rastro vermelho na blusa branca. Ficou com uma mancha rosada na palma.
Seguiu até o banheiro. Se perdeu na imagem da face que refletia os respingos e riu mais uma vez. Deixou que a água levasse todo o sangue das mãos embora. Tirou a calça, blusa e tênis. Colocou-os dentro de uma sacola de supermercado que foi abandonada ao lado da privada. Vestiu um camisetão branco.Saiu caminhando pelo jardim. Foi andando sem rumo. Abandonou o corpo da mãe ensangüentado estirado na cozinha. Abandonou todo o rancor na cozinha. Abandonou a prisão na cozinha. Abandonou as mentiras e a falta de respeito naquele chão. Seguiu pra qualquer lugar que transformasse aquele asco que vinha carregando no peito em vida.
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