sexta-feira, 21 de março de 2008

A amizade continua

- O namoro terminou, mas a amizade continua, você sabe?

Ela concordava com ele.

Ela sentia a dor daquela separação, mas acreditava que perder o amigo seria mais doloroso, e assim, concordava com a “a amizade continua”.

-Claro. Continuaremos amigos. Sempre seremos amigos. Isso não tem como mudar.

Ela se levantou da mesa, que instantes antes servia de palco para aquela conversa cordialmente amistosa de futuros ex namorados, e foi ao encontro dos amigos que dançavam no outro ambiente.

Nada pior que terminar um namoro em uma noite de sábado em pleno ápice da balada!

Subiu as escadas que davam acesso à pista de dança e logo disparou aos amigos que a esperavam:

- Acabou! Eu e o Alê terminamos! Acabou!

Os amigos ficaram surpresos e descrentes de que realmente o casalzinho ficaria separado. Achavam que era mais uma briguinha daqueles dois.

Continuaram dançando. Bebendo. Sorrindo.

Os flashbacks daquela conversa ficavam revirando-se na mente dela. Ainda tentava entender como chegou na frase: acho melhor terminarmos! Tentava emendar as pontas daquela conversa e não conseguia entender como aquele desfecho veio à tona.

Refazia a conversa quando todos já estavam no carro a caminho de casa.

Ele no banco de traz, e ela no banco do carona, ao lado do melhor amigo. Um silencio monstruoso dominando o interior do veiculo. E todos incomodados, sem reação, sem palavras, inquietos. Perdidos em pensamentos.

Terminou.

- Tchau pessoas.

Antes de descer do carro ele ainda colocou a mão no ombro dela e repetiu:

- A amizade continua, não esqueça!

Um leve aceno na cabeça concordava.

O amigo ligou o carro e partiu. Olhou com cuidado pra ela e perguntou se estava tudo bem.

Apenas um leve aceno confirmava.

Ela chegou muda em casa. Mal se despediu do fiel amigo. E flutuando foi para cama.

Nesse momento de solidão absoluta. De máxima escuridão. As palavras antes ditas começaram a dançar pelo quarto.

E mais uma vez ela tentava entender o desfecho do fim do namoro.

Lembrou que a culpa foi dela. Culpa daquela necessidade em querer saber.

Ela percebendo aquele ar de pessoa incomodada na fisionomia dele logo disparou: - Está tudo bem?

E foi dessa pergunta que nasceu o adeus.

- Tá!

- Alê, que anda se passando com você esses dias? Está tão diferente! Silencioso.

E temendo mais a ignorância que a resposta:

- Você ainda me ama?

Quando a resposta surgiu, ela já sabia que sairia solteira daquele sábado.

- Estava justamente falando sobre isso com meu primo...

Sem esperam se seria sim ou não.

- Acho melhor terminarmos!

E foi assim. Temendo a verdade que ela preferiu a ignorância.

Preferiu ela terminar.

Preferiu não saber.

Preferiu acreditar que a amizade continuaria.

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